sexta-feira, 5 de maio de 2017

Parte 1 - Túmulo

"Em algum momento do tempo Jack estará aqui, no Bar do Enforcado, com a corda firme e forte rodeando o pescoço, os pés parados no ar e o aperto de mão de um amigo." 

Existem dúzias de lugares estranhos por ai, você felizmente não faz ideia de quantos. Temos as cavernas mais escuras de toda a existência, onde a luz não toca o fundo, lá naquela escuridão nascem crianças sem mães, bebes aos montes que surgem do nada e choram ate secar de fome, o Velho, sobre quem está historia conta, consegue ouvir elas chorando alto enquanto senta na varanda para olhar a grama, o som vem do chão por buracos que as minhocas fazem quando a gravidade decide agir diferente sobre elas e aleatoriamente faz com que caiam em direção ao ceu ate desintegrarem em direção ao espaço. O desnível do gramado confirma que por inúmeras vezes ele tentou cavar para entender o barulho, sempre sem sucesso. Não sei o nome real dele, sei que ele existe e que vem vivendo tudo de forma estranha, da primeira vez que fui ate onde ele mora para recolher informações tive o vislumbre de como a realidade pode funcionar diferente em alguns lugares. No mapa indicava um sitio rodeado de areá verde com um corrego passando na frente, podíamos ver uma ponte de madeira nas imagens de satelite e ao vivo quase não era diferente exceto que no meio da ponte tudo fazia sentido, a grama verde comum sedia espaço para uma grama quase translucida que refletia o azul escuro do céu, e o céu tinha nuvens feitas de grama e terra, leves nuvens esverdeadas que tenho certeza que cheiravam a grama recém cortada. Segui pela estrada sem entender se era ceu ou grama onde eu pisava, eu tinha a certeza de ser solido e o medo imenso de estar errado. Um casarão antigo e grande se mostrava imponente no meio do terreno a uns duzentos metros da entrada, todas as janelas estavam abertas e davam a impressão de uma ventania vindo de dentro, era lúdico ao extremo, tive a sensação de estar em uma redoma de vidro, isolada de tudo que abrigava um local com vontade propria. Dando a volta na casa encontrei um cemitério com lapides de madeira apodrecendo, os nomes estavam ilegíveis, mas pude contar seis lapides e dois tumulos abertos, logo no primeiro o velho estava no fundo deitado como uma criança que encolhia as pernas de frio, nos primeiros segundos imaginei que estivesse morto, ate notar os pulmões inflando lentamente e fazendo o volume do corpo raquítico mudar. Uma mulher perto dos vinte anos, vestida de coelho veio em minha direção enquanto deixava pegadas de uma gosma preta para trás.

 _ Ele está dormindo, vamos para dentro preparar o chá que ele acorda.

 Ela estendeu a mão e fui.

Nenhum comentário: