domingo, 1 de fevereiro de 2009

Mago - Parte 3

Era uma manhã calma, pouco sol e muita luz branca. A quantidade de nuvens no céu anunciavam mais um dia triste de outono.
Mesmo depois do café da manhã ainda tinha fome.
A casa era velha, escadas mal cuidadas, janelas sujas da poeira que vinha da rua. Era mais um lugarzinho solitario e abandonado.
Dava para sentir muito medo daquele lugar. Mesmo quem tinha um pouco de estomago, ficaria enjoado ao passar pelos corredores
que percorriam toda a estenção da casa. Era mofo, acaro, fezes de gato e mais alguma coisa nojenta e indecifravel.
"É...quem diria. Hoje é só segunda-feira". Afirmou uma cabeça triste e solitaria dentro de um pote de vidro, sobre um armario, no canto afastado da cozinha.
"Oi?".
"Segunda-feira...Foi isso que eu falei! ". Disse a tal cabeça novamente. Agora com um tom de desespero e ofença. Coisa facil para uma cabeça.
Ela tinha se tornado uma cabeça em um pote a pouco menos de uma hora. Ela ficou um pouco triste com isso. Mas como já estava ficando dificil de caminhar por ai, por causa da idade avançada, ela até achou melhor assim. Pensou que passaria seu ultimos dias solitaria em um cazebre fuleiro no fim do fim do mundo. Mas agora ela sabia. Teria que passar o resto dos seus dias solitaria em um pote de vidro dentro de um cazebre fuleiro realmente no fim do fim do mundo, simplismente resmungando para alguém que nem mesmo queria responder.
Parece que a vida dá muitas voltas. A pouco menos de um mês, esta senhora que agora vemos a resmungar no potinho, era considerada uma celebridade do meio Magico. Quem era capaz de dizer que não à conhecia? Bom, digamos que ela não era assim tão popular entre os mais moços, mas pode perguntar pro seu pai que ele saberá quem ela é ... quero dizer, talvez!? Deixemos os meritos para quem os merece.
Imprevisivel foi o fato deste homem aparecer assim de surpresa. Trouxe o café da manhã em uma cesta com um laço vermelho. Frutas, torradas, alguns doces, algumas geleias e um pote de vidro grande para a senhora agora encapsulada no mesmo. Imprevisibilidade. Era uma boa palavra, certas vezes um pouco ofenciva, já outras nem tanto. Mas mesmo assim, hoje era segunda-feira. Dia de ir ao mercado comprar verduras e hortaliças para a semana, dia de comprar carne, ovos, ameixas secas para o arroz a grega. Dia segundo da semana que poderia ter sido o primeira, mas quem ocupava este lugar era domingo, que nada tinha de especial e também deixa a maioria das pessoas deprimidas.
"Não me importo mais se é segunda-feira ou não". Disse a Velha, que todos conheciam por Velha e que a maioria sempre a chamava assim, mesmo se sentindo um pouco ofencivo ao fazer. "Tem muita coisa que exatamente neste momento deixei de me importar. Talvez pq agora sou só uma cabeça falante dentro de um pote grande de vidro." Era mais uma conjuctura do que uma conversa. Hoje ela estava por fazer monologos descarados. Ela estava começando a ficar odiada com esta situação. Era tudo um meio chove e não molha. "Estou mais triste do que a 10 minutos."
O homem continuava ali, parado observando dois garfos que se moviam sozinhos no chão da casa. Ah...era mais uma das coisas esquisitas que estavam acontecendo naquela segunda-feira de inicio de outono. Por alguns instantes o homem pareceu que daria atenção ao que a velha estava a resmungar, mas só pareceu, pois ele ficou ali, parado a observar os garfos cada vez mais longe em pensamentos.
Um dos garfos estava girando descontroladamente em sentido horario, já o outro, estava como que caminhando em torno do que girava. Se fosse algum sabio arabe eu afirmaria que eles estava fazendo algum tipo de ritual para chamar a chuva, ou algo como uma dança de acasalamento.
Mas como não sou arabe e nem sabio, eles estavam forçando a realidade.
Uma gosma estranha começou a sair rapidamente pelo bolso do casaco do homem estranho. Ele era realmente estranho. Poucas pessoas levam um café da manhã para alguem se vão arrancar a cabeça dela logo depois. E estranho também era aquela gosma, preta e pegajosa, que estava se acumulando exatamente ao lado do pé direito do homem. Aquilo parecia que tinha vida, começou a se mover lentamente até alcançar os dois garfos que mantinham seu ritual de acasalamente com um sutileza quase sexy. Agora formas estranhas de gosma preta se formavam iam e vinham, de lá pra cá....era mais um transe que acontecia na casa.
Ouviu-se um carro chegando. Mal podia-se velo pela janela. O homem com a mesma calma de sempre, pegou os garfos do chão, interrompendo a dança e se foi sem dar tchau para a velha. Quem sabe pra onde ele foi? ninguem provavelmente. Mas que ele deixou aquela gosma preta para trás, isso é certo!