terça-feira, 29 de abril de 2008

Meditação


Não sinto dor
Não sinto ódio
Não sinto dores
Não tenho corpo
Não vejo cores
Não tenho noção do tempo
Não é apertado
Não é eterno
Só sinto me livre de tudo e de todos

terça-feira, 15 de abril de 2008

Liberdade Sem Pedir

Perdão Sr.Cuco, mas não consegui resistir...
Toda a semana postarei um capitulo do livro escrito por mim e o Sr.Cuco...sem autorização dele é claro...mas tenho certeza que ele não vai se importar muito (eu acho)...

Três Noites Para Amanhecer

Capitulo I - O Soar Frio de Jack
Capitulo II - Entre um Retrato e Outro

Capitulo II - Entre um Retrato e Outro

Capitulo Dois - Entre um retrato e outro

Era uma manha fria, a chuva fina era quase imperceptível, quase uma fumaça sobre a cidade, as ruas estavam escorregadias e as calçadas abarrotadas de gente, como era sempre. Os trabalhadores esperavam seus ônibus e os lojistas alçavam as portas com mãos tremulas, as empregadas davam passos maiores que as pernas para ter certeza de chegar a tempo, os estudantes conversavam animados a caminho da escola, os mendigos dormiam debaixo de marquises que os protegiam da chuva, e os que tinham sorte conseguiam um canto apertado para se sentir confortável.
Willian olhava tudo com olhos desatentos, era um garoto magro, alto e loiro. Usava uma toca azul e um casaco branco com bege, dezenove anos era uma idade boa, ainda mais quando não aparentava. As pernas compridas pularam o meio fio e ele até achou que fosse escorregar, mas só achou, olhou para os lados para ter certeza de que nada iria interromper seu caminho e continuou. Antes de entrar nos correio ele sacudiu o guarda-chuva mirando-o para rua, quando nada mais pingava ele entrou, passou pela porta giratória e como de costume nada aconteceu, cumprimentou o segurança e foi até uma parede cheia de pequenas portinhas. Tirou um chaveiro do bolso e como de costume acertou a chave, pôs na fechadura e girou duas vezes para a esquerda, a portinha deu um clique e abriu, ele pegou os envelopes e pôs no bolso de trás das calças.
— Bom dia Willian. — disse o guarda.
— Bom dia Ricardo. — respondeu.
— Como tem sido as coisas por casa? Sua irmã esta bem morando com a sua tia?
— Ah, esta sim, elas se gostam, e lá em casa eu estou me virando como sempre, tive um problema com os canos da cozinha um dia desses, mas consegui resolver, de resto está tudo bem.
— Então está bom, vou voltando pro meu posto antes que o general resolva dar uma olhada por aqui. — ele riu para Willian e para uma senhora que passava e voltou para atrás de uma parede de metal.
Ricardo era um ex-aluno da escola onde Willian estudava, se conheciam a alguns bons anos, mas mesmo toda a amizade não propiciava mais que uma pequena conversa três vezes por semana. Willian ainda lembrava de todas as vezes que viu Ricardo ser preso por porte de arma e maconha na frente da escola, e hoje era segurança de um correio qualquer na cidade.
Willian saiu e abriu o guarda-chuva, sentiu o ar frio da rua entrar no ouvido, pôs a mão e ajeitou a toca. Mais um dia estava começando, como todos os outros. A cidade era pequena, uma avenida ia de um extremo a outro da cidade, e da avenida partiam todas as outras ruas, uma passeio para conhecer tudo aquilo não levaria mais de cinco horas, mas Willian tinha certeza de que ninguém conhecia tudo. Ele passou pela esquina das ruas desertas e depois pela loja de porcarias onde uma mulher velha vendia sorvete em pleno inverno, olhou o relógio, eram quinze para as sete, a aula era as sete e dez, mas ele sempre se atrasava e acabava entrando no segundo período. Passou a frente de uma agropecuária e atravessou para o outro lado da avenida. Entrou no posto de gasolina que era a esquina de uma quadra inteira, comprou um maço de Marlboro e alguns chicletes. O vicio de fumar nunca o dominara por completo, era mais como uma diversão para não manter seus momentos de monotonia tão monótonos. Saiu do posto e seguiu para a direita, duas ruas depois ele entrou em uma cafeteria. Existiam poucas cafeterias em Cachoeirinha, e essa era a pior, mas Willian adorava aquele lugar, talvez mais que qualquer um, ele ia ali todas as manhas, sentava sempre no mesmo canto no fundo e pedia um café simples, fumava um cigarro ou dois, as vezes até tinha tempo para terminar algum trabalho de escola, mas os grandes motivos para as visitas rotineiras eram a garçonete e a “Sussurros no Escuro”. A livraria ficava em cima da cafeteria, era um lugar desarrumado e tecnicamente desajustado, mas era o antro para os viciados em cultura, desde a inútil a mais sutil de todas. A garçonete era uma morena baixinha de bunda grande, pelo menos era assim que ele a descrevia para alguns conhecidos, Willian e a garçonete Maria, nunca trocaram mais que algumas palavras, e todas eram sobre como ele queria seu café

domingo, 13 de abril de 2008

Capitulo I - O Soar Frio de Jack

Capitulo I

O soar frio de Jack

A poeira pairava como uma leve neblina calma sobre escritório mal cuidado de Antônio. A umidade das paredes juntava-se com o mofo do carpete, que mais parecia uma obra de arte psicodelicamente surrealista. De primeira mão parecia nojento, mas depois de algum tempo causava também repulsa. O lugar estava imundo e delicadamente bagunçado, papéis espalhados por todos os lados sobre escrivaninha — que também servia de mesa para jantar, pois se via pratos com sobras sobre ela — que à muito Antonio vinha dizendo que pertencera ao Hitcock¬. Sobre o tapete pequenas pilhas de livros e arquivos de casos antigos, o pequeno divã que ficava sob a janela estava coberto de roupas, sujas e limpas, misturadas. Nas paredes ao lado da janela Antônio havia fixado um mural, que agora estava pendendo para um dos lados. No outro canto da sala próximo ao banheiro ficava uma cozinha improvisada, com um pequeno fogão de duas bocas e um prateleira que também servia como balcão. Era impossível acreditar que alguém conseguia morar ali, mas o investigador particular Antônio já havia se acostumado, e pode-se dizer que até gostava, do seu quarto-escritorio.
Antônio acabara de entrar pela porta, trazendo seu cansaço, a barba por fazer, um cabelo meio comprido desarrumado, suas roupas surradas e uma cara de quem não consegue entender algo.
A única iluminação que se tinha era do neon da boate logo abaixo, que fica piscando vez que outra. A energia elétrica do escritório tinha sido cortada por falta de pagamento há uns dois meses. No inicio Antônio sentia falta do ventilador, que não havia como fazer parar. Mas agora ele já tinha conseguido se acostumar. Sentia mais falta era do café, como não tinha um bule e nem energia para ligar a cafeteira ficava só nos charutos.
Ele cruzou a sala desviando-se dos objetos e papeis jogados pelo carpete, circulou a mesa do hitcock, tirou o sobretudo e o chapéu de detetive e jogou-se sobre uma cadeira de rodinhas, que estava sem as rodinhas. Com uma das mãos alcançou um gravador e deu o "play".
Com os pés sobre a mesa e o charuto costumeiro no canto direito da boca, se deixou perder em pensamentos. Este era o dia mais estranho pelo qual ele havia passado nos últimos cinco anos, desde que deixou a policia para se tornar detetive particular. O problema é que não há trabalho digno para um detetive. As investigações eram sempre as mesmas, uma mulher traída querendo saber se realmente o marido a estava traindo, e muitas vezes, o contrario também. Eram casos simples, pois as pessoas envolvidas eram simples. Mas este caso era diferente, era um assassinato. E pela forma que ele foi cometido não se tratava de um simples assassino. Muito menos de simples vitimas.

Manhã do dia anterior

Um telefone alto que não era para estar tocando, tilintava como louco em cima da escrivaninha do escritório moribundo de Antônio. Mas aquele sono era mais do que bom, era um sonho, uma alternativa para fugir da realidade em que ele se encontrava. E Antônio não queria acordar.
Uma rua extensa e movimentada, carros pra lá e pra cá, assim como as pessoas. Um brilho estranho pouco nítido. Era o sol, ou mar talvez. O vento soprava lindamente, espalhando uma pequena nuvem de poeira, que rodopiava, e se acabava no ar. Era sua família seus filhos brincado no parque, sua mulher esperando para comer. Era uma vida que ele havia desperdiçado. Sua culpa, sua total culpa. Ele merecia um castigo. A parte indolor acabou. Antônio levantou sua cabeça e viu seu escritório exatamente como ele o havia deixado, uma completa bagunça. Suas coisas espalhadas por todos os lados juntamente com a sua esperança de melhorar e viver normalmente de novo. Mas a sua doença era grave e não tinha uma cura.
Com um solavanco esforçado se ergueu da cadeira e foi em direção ao banheiro. Abriu fortemente a torneira e deixou correr um pouco de água sobre as mãos. Jogou um bocado de água no rosto e ergueu a cabeça para ver seu rosto no espelho. Mas não achou exatamente o que procurava. Era ele mesmo, com pedaços de carne escorrendo pelo rosto, era a sua pele. Ele conseguia ver os vermes corroendo por seus olhos. Descamava como um peixe velho. Sacudiu a cabeça achando que tudo aquilo poderia ser só um pesadelo. Mas viu que pedaços inteiros de sua carne espelharam-se pelo banheiro sujo. Agora vinha uma dor maçante que lhe machucava mais que um tiro. Era o ódio que sentia de si mesmo, e a humilhação de se tornar uma criatura tão fétida e imunda. Ele caiu de joelhos no chão e pode sentir o cheio poder que vinha de seu corpo.
Um homem alto com cabelos até o meio das costa e um cavanhaque mexicano, entrou pela porta do banheiro e juntou o montinho de ser humano que
Antônio tinha se tornado, jogado no chão daquele banheiro.
Aquilo já estava tornando-se algo rotineiro. Antonio alucinava. Mas não conseguia entender o aviso, muito menos mudar.