terça-feira, 15 de abril de 2008

Liberdade Sem Pedir

Perdão Sr.Cuco, mas não consegui resistir...
Toda a semana postarei um capitulo do livro escrito por mim e o Sr.Cuco...sem autorização dele é claro...mas tenho certeza que ele não vai se importar muito (eu acho)...

Três Noites Para Amanhecer

Capitulo I - O Soar Frio de Jack
Capitulo II - Entre um Retrato e Outro

Capitulo II - Entre um Retrato e Outro

Capitulo Dois - Entre um retrato e outro

Era uma manha fria, a chuva fina era quase imperceptível, quase uma fumaça sobre a cidade, as ruas estavam escorregadias e as calçadas abarrotadas de gente, como era sempre. Os trabalhadores esperavam seus ônibus e os lojistas alçavam as portas com mãos tremulas, as empregadas davam passos maiores que as pernas para ter certeza de chegar a tempo, os estudantes conversavam animados a caminho da escola, os mendigos dormiam debaixo de marquises que os protegiam da chuva, e os que tinham sorte conseguiam um canto apertado para se sentir confortável.
Willian olhava tudo com olhos desatentos, era um garoto magro, alto e loiro. Usava uma toca azul e um casaco branco com bege, dezenove anos era uma idade boa, ainda mais quando não aparentava. As pernas compridas pularam o meio fio e ele até achou que fosse escorregar, mas só achou, olhou para os lados para ter certeza de que nada iria interromper seu caminho e continuou. Antes de entrar nos correio ele sacudiu o guarda-chuva mirando-o para rua, quando nada mais pingava ele entrou, passou pela porta giratória e como de costume nada aconteceu, cumprimentou o segurança e foi até uma parede cheia de pequenas portinhas. Tirou um chaveiro do bolso e como de costume acertou a chave, pôs na fechadura e girou duas vezes para a esquerda, a portinha deu um clique e abriu, ele pegou os envelopes e pôs no bolso de trás das calças.
— Bom dia Willian. — disse o guarda.
— Bom dia Ricardo. — respondeu.
— Como tem sido as coisas por casa? Sua irmã esta bem morando com a sua tia?
— Ah, esta sim, elas se gostam, e lá em casa eu estou me virando como sempre, tive um problema com os canos da cozinha um dia desses, mas consegui resolver, de resto está tudo bem.
— Então está bom, vou voltando pro meu posto antes que o general resolva dar uma olhada por aqui. — ele riu para Willian e para uma senhora que passava e voltou para atrás de uma parede de metal.
Ricardo era um ex-aluno da escola onde Willian estudava, se conheciam a alguns bons anos, mas mesmo toda a amizade não propiciava mais que uma pequena conversa três vezes por semana. Willian ainda lembrava de todas as vezes que viu Ricardo ser preso por porte de arma e maconha na frente da escola, e hoje era segurança de um correio qualquer na cidade.
Willian saiu e abriu o guarda-chuva, sentiu o ar frio da rua entrar no ouvido, pôs a mão e ajeitou a toca. Mais um dia estava começando, como todos os outros. A cidade era pequena, uma avenida ia de um extremo a outro da cidade, e da avenida partiam todas as outras ruas, uma passeio para conhecer tudo aquilo não levaria mais de cinco horas, mas Willian tinha certeza de que ninguém conhecia tudo. Ele passou pela esquina das ruas desertas e depois pela loja de porcarias onde uma mulher velha vendia sorvete em pleno inverno, olhou o relógio, eram quinze para as sete, a aula era as sete e dez, mas ele sempre se atrasava e acabava entrando no segundo período. Passou a frente de uma agropecuária e atravessou para o outro lado da avenida. Entrou no posto de gasolina que era a esquina de uma quadra inteira, comprou um maço de Marlboro e alguns chicletes. O vicio de fumar nunca o dominara por completo, era mais como uma diversão para não manter seus momentos de monotonia tão monótonos. Saiu do posto e seguiu para a direita, duas ruas depois ele entrou em uma cafeteria. Existiam poucas cafeterias em Cachoeirinha, e essa era a pior, mas Willian adorava aquele lugar, talvez mais que qualquer um, ele ia ali todas as manhas, sentava sempre no mesmo canto no fundo e pedia um café simples, fumava um cigarro ou dois, as vezes até tinha tempo para terminar algum trabalho de escola, mas os grandes motivos para as visitas rotineiras eram a garçonete e a “Sussurros no Escuro”. A livraria ficava em cima da cafeteria, era um lugar desarrumado e tecnicamente desajustado, mas era o antro para os viciados em cultura, desde a inútil a mais sutil de todas. A garçonete era uma morena baixinha de bunda grande, pelo menos era assim que ele a descrevia para alguns conhecidos, Willian e a garçonete Maria, nunca trocaram mais que algumas palavras, e todas eram sobre como ele queria seu café