segunda-feira, 8 de maio de 2017

Parte 3 - ????

Jack terminou de contar pela milionésima vez a mesma historia de quando convenceu uma mulher na rua de que a roupa dela fora possuída por demônios de outra dimensão e que tudo de ruim que acontecia com ela tinha algum vinculo com "usar roupas". Contava que sentou na mureta de uma fonte que mal e mal espirrava água pelo peixe descascado, e ficou apreciando a loira de seios fartos se despir num misto de fé e vergonha

_ Tenho certeza de que o ser humano adormecido é o bixo mais irracional que existe em qualquer universo. _ Disse o ruivo oferecendo um cigarro a à mulher toda de preto ao lado dele, que negou com um gesto de mão. _ É uma das coisas mais incríveis, eles simplesmente acreditam e seguem sem pestanejar... 

_ E foi então que um brutamontes de, juro, uns dois metros e dez me deu um soco na orelha que se você olhar com atenção consegue notar que a esquerda tem um leve inchaço aqui, _ ele cutucava a ponta da orelha com o dedo molhado de whisky. _ Aquele negro começou a me socar com toda força e vontade ate que girei a cabeça em um angulo que ele não esperava e la foi ele quebrar três ossos da mão no piso de concreto, no primeiro deslize puxei a perna direita dele e do nada ele ergueu as duas pernas para o alto e tombou com a nuca no piso duro. _ Fez uma pausa para terminar a bebida no copo e disfarçar o nervosismo.

Antes de rumar para casa abraçado em uma loira de tendencias duvidosas ele disse: _ Abaixo da linha do equador meu amigo, tudo pode se resolver com socos, somos um povo nervoso, tudo fica a flor da pele, saciamos nossa vontade pelas mulheres com "a famosa caralhada". E acabamos com a raiva com socos, tudo simples assim.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Parte 2 - O Bar

Existem divisas para tudo, continentes tem suas dividas, países fazem divisas com outros por linhas imaginarias, existe aquela divisa que se entendo no olhar negativo de certos homens e mulheres e existe aquilo que divide os mundos, O Bar do Enforcado é uma divisa de mundos, onde algumas portas levam a lugares tão distantes que os viajantes levariam vidas e mais vidas para cruzar a pé ou a nado. O Bar fica em uma inclinação de terreno a menos de cem metros da margem do mar morto, foi construído ali por escolha, e não pelo movimento do publico. Os que passavam no bar tinham destino certo, vontade certa. Raros os exploradores ou aventureiros cruzavam com o bar, e mesmo que o vissem nem todos eram impelidos a entrar.
Uma construção antiga, na maior parte de madeira bruta, talhada das arvores da redondeza, tabuas altas na vertical pregadas uma por cima das outras, algo perto dos cinco metros de altura, não tinha janelas, apenas uma porta pequena no meio da parede, na esquerda um farol de pedra colado como um anexo, o farol verde de limo subia mais alto que as nuvens baixas, era necessário vinte homens para abraçar a circunferência do farol, o construtor tinha rodada a vizinhança durante um dia para angariar os homens a fim de comprovar que havia erguido a construção apenas imaginando as medidas. E ali comprovou para o casal que vinte homens, exatos vinte homens de mãos dadas eram necessários para abraçar, ninguém criticou a falta de logica ali. O bar por dentro era um grande salão de pé direito alto, uma bancada que se estendia de ponta a ponta com as paredes revestidas de prateleiras e bebidas, mesas quadradas com cadeiras empoeiradas por falta de uso, na parede oposta a entrada seguiam corredores, portas, arcos com escadas para o porão ou para as câmaras de tortura por riso, portas levaram aos banheiros, outras davam para escadas que seguiam para os quartos no andar de cima e outras portas se abriam para outros mundos.

Os três desconhecidos chegaram bem a tempo de participar da medida anual do farol, deram aos mãos e junto dos dezessete comprovaram que vinte homens sempre seria a medida exata.

Parte 1 - Túmulo

"Em algum momento do tempo Jack estará aqui, no Bar do Enforcado, com a corda firme e forte rodeando o pescoço, os pés parados no ar e o aperto de mão de um amigo." 

Existem dúzias de lugares estranhos por ai, você felizmente não faz ideia de quantos. Temos as cavernas mais escuras de toda a existência, onde a luz não toca o fundo, lá naquela escuridão nascem crianças sem mães, bebes aos montes que surgem do nada e choram ate secar de fome, o Velho, sobre quem está historia conta, consegue ouvir elas chorando alto enquanto senta na varanda para olhar a grama, o som vem do chão por buracos que as minhocas fazem quando a gravidade decide agir diferente sobre elas e aleatoriamente faz com que caiam em direção ao ceu ate desintegrarem em direção ao espaço. O desnível do gramado confirma que por inúmeras vezes ele tentou cavar para entender o barulho, sempre sem sucesso. Não sei o nome real dele, sei que ele existe e que vem vivendo tudo de forma estranha, da primeira vez que fui ate onde ele mora para recolher informações tive o vislumbre de como a realidade pode funcionar diferente em alguns lugares. No mapa indicava um sitio rodeado de areá verde com um corrego passando na frente, podíamos ver uma ponte de madeira nas imagens de satelite e ao vivo quase não era diferente exceto que no meio da ponte tudo fazia sentido, a grama verde comum sedia espaço para uma grama quase translucida que refletia o azul escuro do céu, e o céu tinha nuvens feitas de grama e terra, leves nuvens esverdeadas que tenho certeza que cheiravam a grama recém cortada. Segui pela estrada sem entender se era ceu ou grama onde eu pisava, eu tinha a certeza de ser solido e o medo imenso de estar errado. Um casarão antigo e grande se mostrava imponente no meio do terreno a uns duzentos metros da entrada, todas as janelas estavam abertas e davam a impressão de uma ventania vindo de dentro, era lúdico ao extremo, tive a sensação de estar em uma redoma de vidro, isolada de tudo que abrigava um local com vontade propria. Dando a volta na casa encontrei um cemitério com lapides de madeira apodrecendo, os nomes estavam ilegíveis, mas pude contar seis lapides e dois tumulos abertos, logo no primeiro o velho estava no fundo deitado como uma criança que encolhia as pernas de frio, nos primeiros segundos imaginei que estivesse morto, ate notar os pulmões inflando lentamente e fazendo o volume do corpo raquítico mudar. Uma mulher perto dos vinte anos, vestida de coelho veio em minha direção enquanto deixava pegadas de uma gosma preta para trás.

 _ Ele está dormindo, vamos para dentro preparar o chá que ele acorda.

 Ela estendeu a mão e fui.